CentroType
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Introdução
O projeto CentroType tem como proposta criar uma tipografia sobre o centro de São Paulo, tendo como base a teoria da deriva de Guy Debord. A deriva se define como um comportamento “lúdico-construtivo” ligada a uma “percepção-concepção” do espaço urbano, enquanto labirinto, no qual ao partir de um determinado lugar, o indivíduo se lança à deriva e seguirá uma rota indefinida, onde a cidade faz com que o meio urbano o guie.  
A ideia de usar o centro como inspiração veio da observação do autor de que o centro de São Paulo, pela sua diversidade de pessoas, estilos e arquitetura, com ruas irregulares e diversas, adquire vida própria e suas ruas são perfeitas para  guiar o pedestre a se perder por seus caminhos. A partir, disso foi proposto o caminho de fazer a deriva se transformar em uma tipografia, o desafio será  entender os seus percursos buscando em diversos métodos o melhor para desenhar a partir deles letras que formem uma tipografia própria do desenho urbano que a região central de São Paulo oferece.

Referências
Como inspiração foi utilizada a teoria da deriva de Guy Debord, servindo de base teórica para essa experimentação a partir do percurso.
Para o trabalho usando mapas, a inspiração veio da série de mapas pintados a mão pela designer Paula Scher e de seus trabalhos com a desconstrução da tipografia.
Robert Bringhurst, com seu livro Elementos do Estilo Tipográfico, serviu de referência para ajustar a fonte de forma mais harmoniosa para o leitor.
E, por fim, o trabalho de Ellen Lupton, com tipografia experimental presente no livro Pensar com Tipos, ajudou a entender o processo da tipografia de forma não ortodoxa e suas diversas possibilidades.

Processo
Os primeiros experimentos foram feitos a partir somente do google maps, onde foi observado que faltava materialidade ao processo. Logo foi proposto um estudo a partir de um guia de ruas impresso, no qual foram traçadas rotas mais comuns do autor no bairro, buscando formar letras a partir dos traços. Essa forma de experimentação, apesar de manual, não trouxe a essencia da deriva a qual o designer se propos,  pois o caminho era apenas traçado em um mapa, não sendo um caminho real percorrido.
Os próximos experimentos foram feitos traçando o caminho usando uma bicicleta como transporte e com um aplicativo chamado “Strava”, no qual o desenho do caminho percorrido fica registrado no celular. A partir disso, foram traçadas linhas para construir as letras, usando a deriva como método, ao mesmo tempo em que obteve um resultado estético mais interessante usando o site “mapbox” para limpar o desenho do mapa e assim conseguir compor as letras. Abaixo exemplo do processo de construção da primeira letra a partir desse processo.

A partir desse processo, outras letras foram criadas. Para exemplificar o experimento, formou-se a palavra “CENTROTYPE”, nome do projeto de tipografia.
O passo seguinte foi padronizar as letras. Primeiro foram colocadas juntas todas para formar a palavra.
A segunda etapa consistiu em arrumar a altura, a espessura das linhas e a altura de x.
Em seguida, arrumou-se a largura dos caracteres e os espaçamentos entre letras.
Com alguns pequenos ajustes foi concluido o trabalho.

Conclusão
A partir dos experimentos, foi possível explorar a deriva como método tipográfico. A ideia de utilizar o aplicativo para criar as ruas trouxe ao designer uma maior relação entre ele e o bairro, por um lado fazendo com que ele estudasse o desenho das ruas do centro para buscar formas interessantes ao projeto e também como forma de exploração da cidade, uma vez que foi preciso o deslocamento para a construção desse material. Nesse processo o designer precisou interagir com o bairro, deixando por vezes que o bairro o guiasse nesse processo.
Pelo lado do design, foi possível ao autor explorar novas possibilidades mesclando métodos manuais com recursos tecnológicos e teorias de design e da sociologia. Curiosamente, o desenho tipográfico retirado dos trajetos revelou letras que se assemelham muito a caligrafia utilizada por pixadores, muito comuns da região e que compõem o cenário do centro. 
Para esse projeto foi feito um recorte para que fossem trabalhadas letras com o objetivo de formar o nome da tipografia, porém é possível expandir o projeto para futuramente criar um alfabeto completo.


Bibliografia
LUPTON, Ellen. Pensar com tipos. Editora Cosac Naify, 2006.
DEBORD, Guy. Teoria da deriva (1958). Apologia da Deriva: Escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, p. 87-91, 2003.
BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Editora Cosac Naify, 2005.
SCHER, Paula. ‘Paula Scher: MAPS’. Disponível em:< https://www.pentagram.com/news/paula-scher-maps>. Acesso em: 25 junho 2019.

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